Serra Leoa – Trabalho salesiano nas prisões: um recomeço em meio ao coronavírus e uma revolta

02 julho 2020

(ANS - Freetown) - A prisão de Pademba em Freetown foi construída em 1937 com capacidade para 300 presos. Desde então, nada mudou em suas instalações, mas o local chegou a ter 2.000 prisioneiros amontoados em celas sem condições higiênicas. Ainda hoje, os salesianos são a única instituição que trabalha com detidos, mesmo quando o medo do Covid-19 levou a uma revolta que terminou em tumultos, incêndios e mortes entre os detidos.

No dia 29 de abril estava prevista a liberação de 237 presos, que haviam sido detidos por pequenos delitos. Alguns dias antes havia sido registrado o primeiro caso de coronavírus dentro da prisão, o que levou à proibição das visitas. Os presos também foram proibidos de deixar as celas como medida preventiva, mas eles interpretaram a medida como outra forma de humilhação.

Sem câmeras de segurança e com um número de prisioneiros cinco vezes maior do que o local comporta, naquele dia a prisão de Pademba foi cenário de uma revolta sangrenta. De manhã, vários detentos atearam fogo na clínica. Eles contornaram os guardas, abriram todos os departamentos e queimaram a cozinha, a farmácia, o arquivo de documentos e todos os laboratórios.

"A capela sofreu alguns danos e a sala Dom Bosco, onde 225 prisioneiros recebem uma refeição extra toda semana e há uma sala de informática e uma biblioteca, foi completamente destruída", lembra o missionário salesiano P. Jorge Crisafulli. A revolta provocou sérios danos materiais, incêndios, além de deixar muitos feridos e mortes.

Alguns dos beneficiários das iniciativas salesianas ajudaram os guardas a escalar os muros para salvar suas vidas. A polícia e o exército abriram fogo indiscriminadamente. A situação foi controlada em quatro horas e os prisioneiros foram novamente trancados em suas celas. Durante três dias, eles não receberam comida ou água e foram torturados para que esntregassem os fomentadores da ação. Alguns deles, sem tratamento médico, morreram nos dias seguintes.

A equipe salesiana que trabalha na prisão conseguiu entrar no dia seguinte para avaliar os danos e a situação dos presos. O compromisso dos salesianos com as autoridades foi começar a alimentar todos os 1.421presos, realizar visitas médicas e oferecer os cuidados necessários.

Nesse meio tempo, o coronavírus avançou na prisão, com 19 casos positivos. Quinze deles já se recuperaram e quatro ainda estão confinados, em quarentena. "Trouxemos camas e habilitamos uma área isolada para funcionar como hospital", conta o P. Crisafulli.

Os salesianos entregam uma sacola com uma pasta chamada gari, leite em pó, legumes, frutas, açúcar e água a cada prisioneiro. "Aos poucos, eles os deixam sair das celas e também compraram baldes de água para a higiene", conta o salesiano.

O P. Crisafulli, juntamente com toda a equipe de Dom Bosco Fambul, conclui dizendo que "os prisioneiros confiam em Dom Bosco".

InfoANS

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