Argentina – Filhos difíceis ou famílias ausentes?
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24 abril 2017

(ANS – Buenos Aires) – Segundo alguns psicólogos e sociólogos, a figura do pai perdeu, atualmente, o seu papel, esvaindo-se do universo simbólico familiar.

Pelo P. Juan Picca SDB.

Simplificando assaz a análise da situação contemporânea, se podem reconhecer dois “tipos” de famílias, ambos inadequados: o da inexistente, substituída por um simples "conviver", sem um compromisso preciso; e o da ausente, na qual os pais renunciam a seu encargo, porque – mesmo presentes, em casa – não  oferecem aos próprios filhos aquela presença ativa da qual eles tanto esperam. Há – em ambos os casos – uma fuga da realidade que atraiçoa a própria responsabilidade. Assim, perante tal quadro, poderíamos perguntar: estará a causa da crise da família na fragilidade ou rebelião dos jovens, ou, antes, na incapacidade ou ausência dos adultos?

Há, nas ‘Memórias do Oratório’, escritas por Dom Bosco, uma passagem que chama a atenção: “Passado aquele terrível momento e tendo voltado a economia doméstica a um balanço aceitável, minha mãe recebeu uma proposta mais que conveniente, de tornar a casar-se. Ela sempre recusou. «Deus me deu um marido e mo levou. Ao morrer, confiou-me três filhos. Seria uma mãe bem cruel se eu os esquecesse exatamente quando mais precisam de mim»”.

Fizeram-lhe notar que suas crianças seriam confiadas a um bom tutor que lhes dispensaria todos os cuidados. Aquela mulher generosa respondeu: «O tutor é um amigo. Eu sou a mãe dos meus filhos. Não os abandonarei nunca. Nem por todo o ouro do mundo»” (MO 4).

O relacionamento pais-filhos, como toda relação entre adultos e crianças, é assimétrico: não pode ser idêntico, muito menos intercambiável. Nem pode ser sempre o mesmo, porque o crescimento dos filhos exige contínuas variações num processo evolutivo ininterrupto.

Mui frequentemente os pais mostram-se confusos perante a dificuldade de compreender as profundas mudanças culturais atuais, seduzidos pela atração do bem-estar e do mercado, exaustos pelo trabalho e indecisos perante as pretensões inesperadas dos mesmos filhos. Tudo isso lhes torna difícil decidir entre a intolerância e o permissivismo, a indiferença e a compreensão, o desinteresse e o afeto. Consequentemente, as relações interpessoais são destramente dribladas, e as situações dolorosas e conflituosas são ignoradas desperdiçando ocasiões naturais e espontâneas das quais tanto se poderia aproveitar se... fossem enfrentadas dialogando com os filhos, aceitando a diversidade, construindo – juntos – o futuro de cada um.

Boletín Salesiano Argentino

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